quarta-feira, 25 de junho de 2008

A paixão que se levou para Lisboa

Casa de Macau junta adeptos de tai chi




A cultura chinesa deixa marcas àqueles que passam por Macau. No caso de Isabel Soares e de algumas alunas de tai chi da Casa de Macau em Lisboa, a herança traduz-se na paixão pela arte marcial que alia a beleza dos movimentos à paz de espírito.

Laura Bastos

No final de um dia apressado na capital portuguesa, um grupo de pessoas junta-se na Casa de Macau em Lisboa para praticar uma arte marcial que preconiza a quietude e a harmonia, o tai chi chuan. As aulas, para principiantes e praticantes de longa data, são frequentadas por cerca de duas dezenas de alunos, alguns com ligações próximas a Macau.
É o caso da instrutora Isabel Soares, de 54 anos, actualmente campeã nacional da modalidade. A instrutora, e também magistrada, confessa ao Hoje Macau que se apaixonou pelo tai chi quando conheceu Macau, para onde viajou em 1988, juntamente com o “conjunto de técnicos que se deslocou para o território para assegurar o processo de transferência de soberania”. Isabel Soares já era fã das artes marciais, tendo praticado judo quando era mais nova. No tai chi viu a possibilidade de continuar a exercitar uma arte marcial que inclui não só o aspecto físico desta prática mas também a filosofia chinesa. De acordo com a instrutora, o tai chi tem a vantagem de se poder começar tarde e praticar até tarde, embora seja muito exigente e difícil.
Isabel Soares optou pelo estilo chen do tai chi chuan levado pelo seu mestre, Lei Man Iam. Este estilo caracteriza-se por evidenciar a natureza marcial do tai chi chuan, comportando mais tensão nos movimentos e mais gravidade, sendo também a vertente mais antiga da modalidade, explica Isabel Soares. Ainda no território, foi instrutora de uma pequena classe, da qual faziam parte alguns alunos que hoje praticam tai chi na Casa de Macau em Lisboa. A magistrada permaneceu no território até 1999, altura em que regressou para Portugal por razões familiares, transportando para a capital portuguesa o estilo chen, muito importante na actual RAEM.
Em Portugal, a instrutora deu conta de um crescente interesse pelo tai chi chuan no país, pois nos “anos 80 não se ouvia falar sequer” na modalidade. De acordo com Isabel Soares, o tai chi conquista adeptos porque conjuga vários factores. Além da beleza de movimentos, pode aliar-se à música, permitindo também o uso de diferentes tipos de armas e do leque. Mas a modalidade exige, sobretudo, uma aprendizagem que nos “põe em forma mentalmente”. “As pessoas sentem a necessidade de algo mais do que queimar calorias”, acredita Isabel Soares.

Combater o stress da cidade

Uma das alunas da magistrada é Isabel Lagoa, de 63 anos, professora reformada que leccionou em Macau entre 1988 e 1999. Logo nos primeiros tempos que esteve no território, a professora tentou aprender mais sobre a cultura chinesa, começando pelo estudo do mandarim. Iniciou depois a aprendizagem do estilo yang do tai chi chuan, embora a modalidade se tenha revelado demasiado difícil. Depois da primeira desistência, Isabel Lagoa voltou ao tai chi, mas desta vez com o estilo chen. Entendendo a prática da modalidade como um desafio, quando voltou para Portugal e se reformou da carreira de docente voltou à arte marcial com a equipa da Casa de Macau.
Para Isabel Lagoa, o tai chi chuan ajuda-a manter uma postura física correcta, além de “fazer bem em termos psicológicos”. O tai chi é ainda uma forma de combater o stress da cidade grande. “Demoro mais de uma hora a chegar à Casa de Macau mas não tem importância porque saio daqui satisfeita”, salienta.
A vida em Lisboa faz com que sinta saudades de Macau, onde se podia fazer “milhares de coisas num dia” e onde tudo era mais fácil, afirma a professora. Por isso, não exclui a possibilidade de voltar para o território.
Ao contrário de Isabel Soares e Isabel Lagoa, Maria do Sameiro, de 54 anos, não tem qualquer ligação com Macau, mas sim à cultura e medicina chinesa, nomeadamente à acupunctura. “Comecei por ser ajudante de um mestre de acupunctura”, conta, sublinhando que sempre teve igual interesse pelas artes marciais. No entanto, sofreu algumas lesões e deixou de poder praticar, até encontrar o tai chi. A devoção total à prática da modalidade veio mais tarde com as instruções de Isabel Soares, com quem pratica também aos sábados e domingos de manhã no Jardim da Fundação Gulbenkian.
Maria do Sameiro é, juntamente com a instrutora, uma das melhores alunas da Casa de Macau, tendo já ganho o 2º lugar no campeonato português de tai chi chuan. “Nunca pensei ser campeã depois de ser avó”, brinca. Para Maria do Sameiro, o tai chi proporciona sobretudo paz interior. “Faz bem ao corpo e ao espírito”, diz. O grupo pratica a modalidade numa sala da Casa de Macau e junta-se todas as terças e quintas-feiras neste local silencioso plantado ao lado da movimentada Avenida Almirante Gago Coutinho.

O início

Segundo o “Portugal Tai Chi Centre”, o tai chi chuan é uma arte marcial chinesa com cerca de 400 anos, oriunda da aldeia de Chenjiagou, província de Henan, na China. A sua origem lendária é atribuída ao mestre taoista Chang San Feng, que defendia a supremacia da leveza e flexibilidade sobre a força bruta e a rigidez. Desta forma, “codificou os princípios da circularidade e não – resistência nos movimentos corporais, concebendo a técnica do tai chi chuan”. Ao longo dos tempos, foram desenvolvidas diferentes escolas ou estilos do Tai Chi Chuan. Na actualidade, os principais estilos são: chen, yang, wu, sun e woo. O estilo chen do tai chi chuan é uma sequência de movimentos suaves e lentos combinados com movimentos rápidos e dinâmicos, realizados de uma forma equilibrada e natural.

Encontrar o equilíbrio

Além de ser uma arte marcial, o tai chi exige uma tranquilidade e um equilíbrio que se reflecte na vida quotidiana dos praticantes, acreditam os instrutores da modalidade Diogo Sant’ana, João Oliveira Martins e Sérgio Terramoto.
“Encontrar o equilíbrio nas relações e no trabalho e viver melhor emocionalmente” são algumas das benesses atribuídas à prática do tai chi chuan pelo instrutor da modalidade da Escola de Artes Marciais Chinesas She-si, Diogo Sant’ana. O instrutor acredita que o tai chi exige uma concentração que não é comum na vida quotidiana dos países ocidentais. “O tai chi exige que se vá até ao fundo das coisas e isso estabelece uma analogia com a nossa própria vida”, salientou Diogo Sant’ana.
Segundo o instrutor, actualmente a escola do Porto tem cerca de 80 praticantes de tai chi. “Muitos vêm por indicação médica, não conhecem o tai chi chuan mas ouviram falar”, conta, acrescentando que hoje em dia as pessoas dão muita importância à forma física, por isso vão muito ao ginásio, mas na verdade “precisam de um exercício que as faça parar”.
No entanto, o instrutor sublinha que o tai chi que se ensina nos países ocidentais nada tem que ver com a modalidade originária da China. Hoje em dia, apostou-se no mercado da oferta de ensino das artes que pressupõem um exercício mais interno do que externo, algo que não havia até há pouco tempo no Ocidente, salienta o instrutor, explicando que por isso se criou “um pseudo tai chi para pessoas mais velhas”. De facto, “o tai chi chuan exige muito do corpo”, diz.
Já em Lisboa, o responsável da Associação de Tai Chi Taoista de Portugal, João Oliveira Martins, reconhece que se verifica um grande interesse dos portugueses pela modalidade. Muitos recorrem à associação para satisfazer a curiosidade, embora “uns fiquem e outros não”. João Oliveira Martins acredita que “cada pessoa tem a sua resposta quanto à razão porque escolheram o tai chi chuan”. “Uns pelos benefícios físicos imediatos, outros pelo desafio de trabalhar a forma e muitos porque deixam os problemas lá fora durante as aulas”, salienta.
A associação dedica-se a um estilo mais virado para o trabalho da postura física, do estiramento da coluna e da flexibilidade do corpo. De momento, tem 120 membros a nível nacional e está ligada à “International Taoist Tai Chi Society”, seguidora do mestre Moy Lin-Shin.
Por sua vez, Sérgio Terramoto, responsável pelo recém-criado Portugal Tai Chi Centre, salientou ao Hoje Macau que a actividade do centro tem corrido bem, embora não sejam “muitas as pessoas que procuram a tranquilidade do tai chi, sendo que preferem o stress e as modalidades mais activas”. O centro, no qual se ensina o estilo chen, conta com cerca de duas dezenas de pessoas e a tendência é para aumentar, afirmou o instrutor.
Sérgio Terramoto salienta ainda que o tai chi chuan cultiva a tranquilidade e o equilíbrio, mas está a ser divulgado em Portugal de forma errada, como uma modalidade “só para a saúde”, esquecendo a sua vertente marcial.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Mobilização mundial contra o trabalho infantil

Eventos no Brasil acontecem entre os dias 6 e 12 de junho

O símbolo do Dia Mundial contra o Trabalho Infantil é um brinquedo multicolorido e cheio de energia, o catavento. Criado no Brasil, como contribuição de uma agência de publicidade à campanha, ele foi adotado pela OIT em todo mundo. O catavento colorido simboliza o respeito à criança e às diversidades de raça e de gênero. Suas cinco pontas representam todos os continentes. Ao girar, elas inspiram a mobilização, a geração de energia capaz de mudar a situação de milhões de crianças exploradas em todo o mundo.

Doze de junho é lembrado como o Dia Internacional contra o Trabalho Infantil em todo mundo. No Brasil, a semana de mobilização é coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). A data foi instituída em 2002 em virtude da publicação do relatório da Conferência sobre o Trabalho Infantil em Genebra.

Uma série de importantes eventos acontecerão entre os dias 6 a 12 de junho. O objetivo é chamar a atenção de toda a sociedade durante a campanha. Entre os eventos programados, destaca-se a assinatura de Termos de Cooperação Técnica entre os ministérios envolvidos com a questão (Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Minas e Energia, Saúde, Cultura e Trabalho). São ministérios que adotam políticas sociais específicas, de fortalecimento das ações sócio-educativas e de convivência comunitária, que são fundamentais para eliminar o problema do trabalho infantil na raiz.

Um das ações programadas é a de ampliar o funcionamento do Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) que, em parceria com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), vai capacitar caminhoneiros para identificação de situações de trabalho infantil em todas as regiões do país.

Durante esta semana, haverá eventos ainda no Congresso Nacional, intensificação das ações das Delegacias Regionais do Trabalho, além de atos em vários estados brasileiros. O tema também será abordado por meio de diversos debates na imprensa, especialmente em rádios e TVs.

Para a campanha internacional deste ano, a OIT escolheu como tema o trabalho infantil em mineração, considerada uma das piores formas de exploração de crianças. No Brasil, porém, a mobilização terá como centro a luta contra todas as formas de mão-de-obra infantil. O objetivo é sensibilizar a sociedade civil sobre a importância da infância, como tempo para brincar e aprender. Isso porque o trabalho precoce prejudica a saúde física e emocional e impede, no futuro, uma digna inserção dessas pessoas no mercado profissional.

Referência Internacional

O Brasil é considerado referência mundial no combate à exploração de crianças. É o único país a adotar política específica contra esta mão-de-obra. Além de pagar uma bolsa mensal às famílias dos meninos e meninas, o Peti (programa gerenciado pelo MDS) oferece atividades culturais e esportivas no turno contrário ao da escola. Atualmente o programa beneficia 930.824 crianças e adolescentes entre 7 e 15 anos.

Destaque: Ilusión